Proteger os indígenas é um tema atual. Como é possível sentir na nota dos índios da aldeia Wajãpi Aldeia, no Amapá, quando denunciam a morte do cacique Emyra Waiãpi, de 68 anos, a perseguição por grupos armados e pedem ajuda.
O chefe Emyra Wajãpi foi morto de forma violenta na região da sua aldeia Waseity. (…) Encontraram um grupo de não-índios armados nos arredores da aldeia. À noite, os invasores entraram na aldeia e se instalaram em uma das casas, ameaçando os moradores. Um grupo de guerreiros wajãpi de outras regiões da Terra Indígena foi até a região do Mariry para dar apoio aos moradores de lá enquanto a Polícia Federal não chegasse. (…) Os guerreiros wajãpi ficaram de guarda próximo ao local onde os invasores se encontram e nas aldeias que ficam na rota de saída da Terra Indígena. Durante a noite, foram ouvidos tiros na região da aldeia Jakare.
Trechos da nota dos índios Wajãpi (1)

Legado de Anchieta
Falar de São José de Anchieta é falar de aspectos históricos imbuídos de tamanha atualidade que nos fazem superar quatro séculos, aos quais, ao mesmo tempo em que nos separam, nos unem. Somos separados pelas datas e unidos pelo seu legado, ou seja, pelo que fez, ensinou e deixou para nós.
Reconhecido por títulos atemporais, como Apóstolo do Brasil, Poeta da Virgem Maria, hoje, é dia de recordar Anchieta como defensor dos índios. Reconhecer Anchieta indigenista é atual, é presente, é justo e necessário.
Rejeição à violência
As práticas de Anchieta estavam arraigadas na evangelização que prioriza o encontro, o conhecimento do outro, o respeito e o diálogo.
Aprender de Anchieta a defesa dos indígenas significa rejeitar tanto a violência pelo discurso de ódio quanto pela violência física que gera a morte do corpo.
Anchieta, defensor dos índios
Como agiu Anchieta? Não de forma egoísta, “mas abraçando sua cultura, aprendendo sua língua, entendendo sua mentalidade. Anchieta foi irmão, protetor e defensor dos índios”, como descreve Padre Bruno Franguelli (2).
Trabalhamos o possível pela defesa dos índios.
São José de Anchieta
Carta ao Geral da Companhia de Jesus, Pe. Cláudio Acquaviva
Em determinado momento, o encontro tornou-se inevitável. Anchieta promoveu o encontro, buscou o equilíbrio, defendeu a dignidade dos indígenas, protegeu os índios contra a ameaça da indignidade da escravidão. Contextos diferentes, mas a necessidade de proteção subsiste.
Dois fatos históricos
Refém em um acordo de paz em Iperoig.
O caso de Iperoig, no qual Anchieta e Nóbrega atuaram para um acordo de paz, aponta-nos como um luzeiro. Em 1563, os jesuítas conseguiram através do armistício de Iperoig estabelecer um compromisso de paz entre tamoios e portugueses. Para tanto, Ancheita ficou como refém dos tamoios.
Não hesitou em oferecer a própria vida para evitar mortes. Dessa confiança, nasceu o Poema da Virgem Maria, escrito nas areias da praia durante o cativeiro e que lhe conferiu o título de Poeta da Virgem Maria.

Confronto na vila de Piratininga e a morte do cacique Tibiriçá.
Como fundador da cidade de São Paulo, Anchieta esteve fortemente vinculado à vida com os indígenas. No caminho dessa constituição não esteve só.
“Todos do povoado foram surpreendidos com um terrível ataque da parte dos tupis do sertão que desejavam exterminar toda a vila. (…) Lá fora, os dois lideres indígenas Caiubi e Tibiriçá, colocaram-se junto aos colonos para defender a população de tal destruição. Porém,o valente Tibiriçá foi morto pelos seus inimigos.”
Relato do confronto em Piratininga (3)
Em 9 de julho de 1562
Anchieta e o cacique eram amigos. São José de Anchieta viveu a dor da sua perda.
“Foi o nosso principal amigo e protetor, não só benfeitor, mas ainda fundador e conservador da casa de Piratininga.”
Carta do Padre José de Anchieta
Ao santo que conheceu a tristeza da morte de seu cacique, pedimos a proteção para os povos indígenas.

Referências
(1) Nota do Conselho das Aldeias dos índios Wajãpi (Alpina). Acesse na íntegra aqui.